A tormenta médica do Brasil


Depois da saga médica na Bélgica , infelizmente eu estou escrevendo sobre a tormenta médica do Brasil. E não pensem que eu falo do Brasil da peste pois sobre esse Brasil, acho que não dá nem para escrever num blog e sim num site de denuncia sobre direitos humanos internacionais.

Eu estou falando do Brasil do leste, da Ex capital do país, da cidade maravilhosa, do Rio de Janeiro que continua lindo , mas cada vez mais, esquecido dos governantes na questão saúde. Onde epidemias de dengue aterraram a população a alguns Verões passados ,e outras continuarão por vir tão grande é a desigualdade de atendimento médico e sanitário nesse país

Eu sou uma das "privilegiadas" que tem um plano de saúde, que mesmo não sendo o mais caro , nem o top de linha de alguns privilegiados, não é o publico , e se tem aonde se submeter a um atendimento meio que miserável, e aceitar o não tem vaga, ou o não se conseguir transferir o paciente para um hospital mais próximo da sua residência o que faz com que alem da dor e do stress de ter um parente internado, você ainda soma o stress do transito, dos engarrafamentos, do medo das chuvas de verão nas vias esburacadas e mal sinalizadas da cidade , e dos possíveis assaltos e acidentes que a distancia e o local propiciam.

O que na Bélgica tem um tom de ironia e surrealismo, pelo excesso de tecnologia e escassa relação inter-pessoal.No Brasil tem um tom de tragédia e realismo fantástico pela escassa tecnologia a serviço das massas e o excesso de misticismo e criacionismo dos profissionais de saúde, que em algum momento acham que são Deuses ou que tem esse poder!

Isso porque eu me nego a acreditar pura e simplesmente que o paciente do UTI deve ser mantido vivo o máximo ou o mínimo, de tempo possível apenas por motivos mercantilistas e financeiros, seja ele financiado por um convênio ou paciente privado ou publico

Pela segunda vez em dois anos eu tive a infelicidade de acompanhar meus pais em estados críticos de sobre-vida, internados em hospitais diferentes, na zona sul e oeste da mesma cidade do Rio de Janeiro em dois UTIs diferentes em tecnologias e pessoal capacitado ao atendimento.Os dois pelo mesmo convênio médico o que ja mostra a dificuldade mesmo dentro do mesmo plano de saúde de se encontrar recursos iguais de atendimento.

Em todos os dois casos a sobrevida, era intimamente ligada a qualidade de vida que restaria após lesoes cerebrais importantes.

Meu pai sofreu uma acidente, que lhe causou uma lesão cerebral, que poderia e foi operada, na tentativa de lhe render uma sobrevida de melhor qualidade .Infelizmente por tudo e para todos a cirurgia apesar de ter sido feita dentro de toda técnica e tecnologia ao alcance, e apesar de bem sucedida, sofreu complicações graves num momento de pós operatorio que o levou a morte
nesse interim entre a cirurgia e o final ,ele permaneceu numa UTI necessária, e lógica pois do momento em que a lesão se tornou mais intensa e incompatível com uma sobre vida digna ,nenhum procedimento invasivo e de manutenção de estado vegetativo foi efectuado, sem que nós fossemos consultados e acordados.
Em linhas gerais se você esta com seu cérebro lesado, a ponto de não sobreviver, sem aparelhos, de respiração , rim artificial ,etc, a não ser como uma planta , permitam ao paciente ou a família que o conhece bem, o direito de não ficar prolongando enormemente esse estado de vida de "planta"

Já minha mãe estava bem e lúcida até ter uma acidente vascular cerebral, em que o atendimento inicial foi humano,mas precário do ponto de vista tecnológico, a lesão se intensificou, pois até ser feito um correto diagnostico de causa, ela não poderia ser submetida a um tratamento moderno sofisticado e cheio de riscos. Porem isso é falha do sistema e não do doutor. Mas dai pra frente tudo foi feito para tentar reparar algo irrecuperável ,prolongando o sofrimento e a dor de todos indefinidamente. Isso sem contar os devaneios de Deuses que acham ótimo manter o paciente Vivo se é que isso se chama vida estar ligado a verias engenhocas modernas que te mantém respirando, excretando alimentando, sem que se tenha ao menos consciência disso.

Resumindo o mesmo cérebro lesado com um bando de loucos se arvorarando de Deus para manter o coração batendo. E para que e para quem? e com que sentido?
Eu vi muitos nas mesmas condições , com a desculpa de que a Eutanásia é proibida no País , mas o bom senso não é proibido dentro de uma UTI ,ou eu estou enganada?

Enfim nem sei se vale a pena o Brasil chegar na época da tecnologia médica de ponta,para todos, se por traz dela existirão sempre Deuses querendo usar a mesma para fins duvidosos.

O que é vida para você que esta lendo? É estar consciente participativo, capaz de suprir suas necessidades vitais básicas, como:pensar, respirar, comer,excretar ,ter prazer
ou vida é ter um coração batendo, sem que se saiba aonde esta,o que esta fazendo, ou quem esta a sua volta , ligado ou não a um bando de maquininhas que te dão essa garantia como se você fosse aquela linda violeta ou aquela samambaia que fica no canto da sala ,sem nem ao menos enfeitar o ambiente? Apenas para que os moradores saibam que você existe? ou se transformem em escravos uns dos outros, pelo simples fato de acreditarem que um "Deus" qualquer quis assim?




Comentários

Pituca disse…
Regina querida!!!como vc faz um blog e nao conta pra gente? Já vai para meus favoritos, vou ser uma seguidora. ë um jeito da gente ficar mais perto além de adorar os seus textos sempre brigando por uam causa justa. bjo querida e saudades de sempre
Rubia disse…
Olá, Regina.

Com certeza já viu o filme "Mar Adentro", né? Mesmo nesse caso, em que o paciente está consciente mas não deseja mais viver, sou a favor da eutanásia. Quem dirá quando a pessoa está em estado vegetativo. Infelizmente ainda reina no Brasil e em muitos lugares do mundo, um pensamento católico retrógrado, aqui agravado pela imagem do médico como um deus.

Vida, para mim, é estar consciente participativo, capaz de suprir as necessidades vitais básicas, mas então penso na história do Jean-Dominique Bauby (O Escafandro e a Borboleta)e no que ele foi capaz de criar mesmo estando completamente paralisado. De onde vinha aquela força? É incrível.
É um cas isolado, claro. Se a pessoa está completamente inconsciente e não tem chances de se recuperar, não vejo porque mantê-la viva.

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